Tera, de 14 anos, é de uma vila de pescadores nos arredores de Manakara, no sudeste de Madagascar. As casas da sua comunidade são construídas com a árvore-do-viajante: os galhos formam as paredes, o tronco o piso, e as folhas o telhado. A casa de Tera fica à beira do rio e é compartilhada com seus pais, três irmãos e a avó.
“Nesta comunidade, as pessoas pescam neste rio e no mar usando redes. Ninguém aqui trabalha em escritório”, explicou Justin, pai de Tera.
A beleza da vila está no forte senso de comunidade. Quando uma criança nasce em uma família, ela é acolhida por toda a vila como se fosse de todos. Por isso, Tera cresceu com um forte desejo de pertencimento — um desejo que permaneceu insatisfeito por muitos anos.

Treze Anos Andando Descalço
Embora Tera fosse muito pequeno para se lembrar do acidente que fundiu seu pé ao tornozelo, aos 1 ano de idade, ele conhece bem a história.
“Minha mãe foi ao banheiro, eu estava engatinhando e derrubei a panela… A água quente derramou sobre mim, e foi assim que me queimei”, contou.
Segundo seus pais, a água fervente causou queimaduras graves em suas pernas. Sem recursos para pagar um hospital, a família recorreu a três curandeiros tradicionais, cada um com seu próprio método. Mas, apesar dos esforços, as queimaduras não melhoraram.
Com o tempo, as feridas de Tera cicatrizaram sem intervenção médica, mas o resultado fez com que 13 anos da sua vida fossem quase insuportáveis.

O Dr. Tertius Venter, cirurgião plástico reconstrutivo da África do Sul e voluntário da Mercy Ships há 24 anos, explicou:
“A queimadura muitas vezes não é profunda, mas infecciona e causa maior destruição da pele. A única forma do corpo curar é puxando os tecidos. Assim, ele desenvolveu uma contratura entre o pé e o tornozelo, o que limitava o movimento.”
Durante 13 anos, Tera andou descalço, sem conseguir calçar sapatos. Não podia jogar futebol nem ocupar sua posição favorita de goleiro com os outros meninos da vila.
“Eu gosto de jogar futebol, mas eles não gostam muito de mim. Eu vejo meus amigos jogando e também quero jogar”, disse ele, de cabeça baixa. “Fiz uma bola de plástico, mas meus amigos ainda me rejeitaram porque eu não podia jogar, então fui embora chorando, muito triste.”
Marie, sua mãe, carregava o peso da impotência de não poder ajudar seu filho. Por isso, quando voluntários da Mercy Ships lhe falaram sobre a possibilidade de uma cirurgia gratuita a bordo de um navio-hospital, ela não pensou duas vezes. Com Cedrick, o irmão bebê de Tera, nas costas, embarcou em uma jornada de dois dias até o navio Africa Mercy®.

Novas Amizades, Esperança e Cura
A enfermeira voluntária australiana Natasha Short passou três meses a bordo do Africa Mercy e percebeu uma grande diferença em relação às cirurgias plásticas reconstrutivas em seu país, onde “tratamos queimaduras logo no início, então elas não exigem tanta cirurgia.”
Ela se envolveu profundamente com os pacientes — não apenas como enfermeira, mas como amiga.

“Tera passou por tantas coisas e ainda assim tem tanta alegria e brilho de vida”, disse ela. “Ele é muito aberto com sua felicidade, desde o primeiro dia em que o conheci.”
Natasha conheceu Tera antes mesmo da cirurgia dele ser agendada — o começo de uma linda amizade.
“Sempre que ele me vê, grita: ‘Natasha, Natasha!’ E abre um sorriso enorme”, contou ela, emocionada. “É a sensação mais maravilhosa.”
Natasha levou Tera para a cirurgia, onde foi atendido por uma equipe liderada pelo Dr. Venter, que libertou a contratura que o prendia há 13 anos — tudo em apenas duas horas.
“Agora ele deve ter um tornozelo funcional, o que significa que poderá brincar como qualquer outra criança, jogar futebol e calçar sapatos normais”, explicou o Dr. Venter.
Na enfermaria, Tera também fez amizade com outro paciente da sua idade, Martino. A amizade era tão forte que, quando estavam separados, os enfermeiros voluntários entregavam cartas entre eles e organizavam videochamadas.

“Eu te amo, Martino”, dizia Tera ao final das ligações.
O fisioterapeuta Theo Jacot observou que a presença da família durante a recuperação fazia toda a diferença.
“O Tera fica mais motivado ao ver que a mãe e o irmãozinho estão assistindo ele fazer os exercícios”, disse. “Acho que ele está realmente focado em jogar futebol um dia — e esse dia vai chegar.”
Tera deixou o hospital com uma grande festa de despedida, dançando com muletas, cantando e sorrindo junto à sua família, enfermeiros e tripulantes.

Um Sonho Realizado, Uma Vida Transformada
Seus pais, que antes não conseguiam enxergar um futuro além da dor de Tera, agora veem um caminho cheio de possibilidades. O pai, inclusive, se mostra confiante de que poderá ensinar seu filho a pescar.

“Hoje vamos pescar e eu coloco ele na frente da canoa. Amanhã fazemos o mesmo, e no terceiro ou quarto dia ele já pode ir sozinho. Ele aprende rápido”, contou Justin.
Tera também reconhece a mudança. “Antes, eu não conseguia usar chinelos… Andava descalço na rua mesmo com o chão quente. Desde que voltei da Mercy Ships, consegui usar chinelos”, disse com alegria.
“Estou feliz porque meus amigos não zombam mais de mim. Agora todos jogamos juntos. As coisas que meus amigos fazem, eu também consigo fazer.”

Por fim, Tera vestiu sua camisa número 1 favorita como goleiro no campo de futebol. Uma multidão animada assistia ao jogo até o pôr do sol, aplaudindo seu retorno: “Tera, Tera, Tera!”
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